Filosofia

Um amor desamado

Querida Sofia,

Fui jantar com o meu ex há alguns dias atrás. Não tenho/tive sequer o tempo de perguntar se ter aceite o convite para a tal refeição foi ou não o maior erro da minha vida, mas a verdade é que já está feito.

Ele disse-me entre duas garfadas do seu sashimi que me queria de volta na sua vida. Que deu-se conta nos últimos meses a falta que lhe faço, que perdeu completamente o equilíbrio, que a vida já não tem mais sentido sem a minha presença.

"Quando volto de viagem, não estás em casa. Quando volto de uma noitada com os amigos, não estás lá para me acolher. Quando chego do trabalho, não é contigo que vou comer..."

Pois... quase me deu uma vontadinha de tirar o lenço da Hermès - que não tenho - do saco para limpar a lágrimazita que teimava em - não - cair.

Confirmei nesse preciso momento que os homens conseguem ser uns insatisfeitos de primeira.

Em 14 meses de uma relação difícil (para não dizer infernal), mesmo morando em Paris, nunca passeou comigo na rua. Raramente andou comigo de mão dada.

Saídas? apenas com os amigos dele. Ou então quando precisavamos mesmo de ir ao supermercado senão apenas comiamos por encomenda.

Não vou nem posso mentir e dizer que me bateu. Porque é mentira, ele nunca me levantou a mão. Mas aprendi com ele que não é preciso ser fisíca a maior dor da nossa vida. Aquela dor do amor insatisfeito, mal agradecido, escravizante e completamente desamado. Até que ponto se pode chegar por amor? Amor desamado... pfff...

No final do jantar, ele pediu-me para pensar... pois não me quer perder... fico triste por ele pensar que "não me quer perder" enquanto já me perdeu antes mesmo do final da relação.

E com ou sem alguém guardo em mim a certeza - que não tenho quanto ao facto de ter aceite ir jantar com ele - que fiz muito bem em tirá-lo da minha vida.

Amén.

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