Filosofia
This love. This love is a strange love.
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Querida Sofia,
A última vez que vi a minha mãe foi quando esta me visitou foi em meados de 2009. Ao fim de um mês, desentendemo-nos e ela disse-me, no táxi de volta para o aeroporto “um dia vais caír, vais deixar de ser arrogante e vais precisar de mim”. Lembro-me do que senti naquele momento. Inatingível. Sentia-me absolutamente intocável, tinha o mundo aos meus pés, um trabalho incrgível, o namorado Parisiense lindo e rico, consumia como se não houvesse amanhã, tinha o corpo que queria, a vida perfeita, que a meu ver, uma praga de mãe (ou um aviso, no fundo, merecido) não me podia atingir.
Em poucos meses, a profecia concretizou-se, caí, deixei de ser arrogante (ou ficou em stand-by) e voltei a precisar da minha mãe. E hoje, que estou bem, sei que vou continuar a precisar dela. Humildade. Maturidade.
Mas o assunto desta carta não é a minha mãe. Era essa pessoa na minha vida, naquele momento que me fazia sentir assim... tão invencível. A verdade é que nos encontramos, perdemo-nos, voltamo-nos a encontrar, perdemo-nos de novo, e essa valsa parou recentemente, pelo melhor. Sentimentos podem existir, mas quando não se quer exactamente a mesma coisa da vida e do futuro, mais vale a pena não insistir. Lembro-me que algures em Março, uma amiga que odeia cabelos brancos (não tenho nada contra) arrancou-me seis fios brancos da cabeça. Um mês mais tarde, ela como verdadeira detectora dessas coisas infectas aos seus olhos, encontrou outro cabelo branco. Para ela, era um problema estético. Mas eu sabia o que isso queria dizer. Não é velhice (bom, sei que para lá caminho). São problemas. São experiências dolorosas. É stress. É a vida. Outra consequência de tudo que aconteceu: a alergia que tive durante o casamento do meu amigo. Dou "uma de forte" aparentemente, mas o meu corpo não perdoa.
Há apenas alguns anos, os pais dele não me conheciam. O pai dele achava que eu era uma doida capaz de ir à Nova Iorque quando me dá na gana para ir passar um mês num hospital. A mãe dele achava que eu era uma doida com um sotaque muito estranho e americanizado para uma francesa.
O tempo passou. Muita coisa aconteceu. Passei este último natal com ele e com eles. Acolheram-me como filha. O pai dele abraça-me quando me vê, e chama-me de “minha Elitinha”. A mãe dele troca sorrisos cumplices comigo, pede-me desculpas por tudo o que julga que não estiver à minha altura (Hello? A verdadeira elite desta cidade é ela...) e diz-me repetidamente que nunca vai esquecer o que fiz pelo filho dela quando ele mais precisou de ajuda na vida.
Fui hoje jantar com eles. Sem ele. Ela convidou-me, provando-me que temos uma relação, independentemente da presença ou ausência do filho. Ao sair da casa deles hoje à noite, quis chorar de alegria, porque no fundo, só quem saiu de casa aos 14 anos sabe o que é aproveitar e apreciar passar tempo com uma família ou uma estructura familiar saudável, que seja a nossa ou a de outrém. Senti deles o carinho e a preocupação do mundo. Perguntaram detalhes sobre todas as aulas do mestrado, pediram que enviasse notícias no final da primeira semana na Danone pois querem ter a certeza que est(ar)á tudo bem. Gostaria que na minha família directa, fizessem o mesmo comigo. Um mail a perguntar estas coisas. Mas não posso pedir isso a Deus. Não posso pedir mais a Deus do que ele já me dá.
A conclusão desta carta é simples, Sofia. Mesmo que a (nossa) relação tenha falhado, ele deu-me esta prenda, esta família, estes abraços, esta preocupação, este interesse. E esse conjunto todo é hoje um dos valores mais importantes (e mais ausentes) da minha vida.
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