Filosofia
Ælitis v2.014
Querida Sofia,
A minha vida mudou no dia 10 de Janeiro de 2014, ali pela manhã. Se eu fosse o Anselmo Ralph, diria que mudou 360 graus. Mas como tenho dois (ou mais) dedos de testa, vamos assumir que mudou 180 graus. O que já é bastante.
Dear Sophie,
My life changed in the morning of January 10, 2014. If I were Anselmo Ralph (a popular Angolan singer), I would say it changed 360 degrees. But as I have a brain, I assume it changed 180 degrees and that is already a lot.
O administrador da empresa na qual trabalho chamou-me e falou-me da Mudança. Lembro-me perfeitamente das palavras dele e das minhas emoções muito internas a cada palavra. A minha cara não reagia ao que ele dizia enquanto o meu coração pulsava. As palavras que sobressaíram… “(mais) responsabilidade”… “(tens toda a) capacidade”… “(liderar uma) equipa”… “acredito em ti”…
My company’s CEO called me and introduced me to The Change. I remember his words perfectly. I remember keeping my emotions to myself at each sentence he conveyed. My face didn’t react much, but my heart was pounding all the way through. Some of his words were all about… “(more) responsibility… (you have all the) capacity… (you can) lead a team… I believe in you”…
Até ao dia 10 de Janeiro, pela manhã, era uma jovem trabalhadora, dedicada, meio que desmotivada e frustrada por sentir que não tinha muitas asas, mas que raramente foi de férias no período de dois anos, quase incapaz de deixar a empresa na mão. Até nas coisas mais triviais dei o meu melhor, no limite do que me era possível.
Until January 10, 2014, in the morning, I was a young and dedicated employee, with my fair share of frustration and lack of motivation at times, because I felt like a caged bird. I declined going several times on holidays as I was unable to abandon some of my projects. Even in the most frivolous of details, professionally, I gave my all.
Desde dia 10 de Janeiro, mudei de lugar. Mudei o âmbito do meu trabalho. E com isso, a pessoa que sempre fui também tem sofrido algumas mudanças.
On January 10, I traded places. The scope of my work changed. And I, as a person, am changing daily since that moment as well.
Por razões bastante evidentes, não posso verbalizar mais do que isto, mas lembrei-me de algo que posso partilhar aqui contigo. Lembro-me de aqui escrever, quando a minha carreira estava de vento em poupa que eu era a pessoa de 22 anos mais bem-sucedida que eu conhecia (não estou a falar de estrelas de cinema e Mark Zuckerbergs desta vida. Estou a falar das pessoas nos círculos que frequento, familiares e de amizade). Nessa frase, não havia um laivo de arrogância, era apenas a verdade.
For obvious reasons, I cannot get into further detail, but I remembered something to share here. I remember writing here, when I was a 22 year-old, that I was the most successful person I knew (I am not talking about movie stars or Mark Zuckerbergs, of course. I am talking about my network of family, acquaintances and friends). In this sentence, there wasn’t an ounce of arrogance, just the truth.
Perdi essa confiança em mim ao longo dos anos, por ter deixado passar oportunidades de trabalho, por tentar vencer – em vão - uma burocracia renhida e sobretudo pelo fracasso de diversas relações afectivas nas quais dei tudo e muito pouco recebi. Voltei a sentir qualquer coisinha ao encontrar trabalho, SEM CUNHAS, em apenas 3 semanas em Angola, mas por razões pessoais, esse sentimento desvaneceu. Sinto tristeza ao pensar o quanto deixei as coisas da vida afectarem, e ter perdido muito o foco do que eu queria, com as derrotas da vida. Disse há alguns dias que eu tinha um sonho muito bem definido da pessoa que eu queria ser aos 27 anos. Sempre achei, talvez a meu detrimento, que queria ser uma pessoa de sucesso profissionalmente, mesmo que para isso não tivesse de ter uma vida pessoal de sucesso. Para mim, lá no fundo, não dá para ter os dois, e sempre preferi o profissional, pois é algo que eu, as oportunidades que escolho e a minha sorte podemos controlar.
I lost that self-confidence throughout the years. I missed a few work opportunities, I tried – and failed – to work around a tough bureaucracy and, most of all, had to deal with the failure of love relationships where I felt I gave my all and received so much in return. I started feeling a bit better when I got a job, with no recommendations, in less than 3 weeks in Angola, but for personal reasons, I quickly lost that feeling again. I feel disappointment when I think how much I let myself down. I lost the focus of what was really important for me with self-defeats. I remembered a few days ago that I dreamed, as a little girl, of the woman I’d be when 27. I always thought, to my dismay, that I would be much more successful professionally than personally. For me, to this day and deep inside, you cannot have both. I’d rather be happy professionally than anything else, as I feel I have some control over the opportunities I take, my skills and… a bit of luck in the mix.
Hoje sou a única Angolana, a única pessoa negra, a única mulher e a mais nova a fazer o que faço. Sou agora, para mim, a pessoa de 27 anos mais bem-sucedida que eu conheço. E com isso, sinto apenas a pressão de dar mais, de fazer melhor e marcar pela diferença para não voltar a perder esta autoconfiança. Acho que todo o mundo deveria sentir isso em relação a si mesmo e não deixar os factores exteriores desmoronarem-nos tanto.
Vamos a isto!
Today, I am the only Angolan, the only Black person, the only woman and the youngest to do what I do. I am now, in my own little world, the most successful 27 year-old that I know. With this rediscovered and recovering feeling, I just feel the pressure to do more, to do everything better and different, so that I do not lose this self-confidence ever again. And I hope more people around the world feel that self-confident about themselves as well and not let exterior factors get the best of themselves.
Let’s do this!
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