[Comida] "Buy local!" dizem eles...

Tanto nos azucrinam a paciência aqui em França para termos um consumo consciente que la chose já me entrou na cabeça. Produtos BIO aqui e ali, produtos FAIR TRADE aqui e ali, separar o lixo (sempre), e tais e tais. Mas mantinha um defeito: se em Montpellier, comprava as frutas e legumes num comércio local, em Paris sempre dei lugar à preguiça e comodismo e comprava tudo no supermercado. Que mau. Para limpar a consciência, quatro anos depois de começar a morar na minha rua, decidi entrar pela primeira vez no primeur, nome que damos ao homem que vende frutas e legumes. Ao entrar, ele estava a conversar com um amigo. Peguei num cestinho e comecei a passear entre os morangos e as bananas e os kiwi (meu top 3 de fruta a ter em casa). Dei-me então conta que o homem me olhava de soslaio. Perguntei, sem reservas, se ele por acaso ia fechar (tinha aquela cara songa monga de “ah já queria fechar, sabe?!”) ao que ele respondeu que não era assim, normalmente ele é que segurava o cesto e pegava as frutas e legumes que eu pedisse – que horror, não? Avancei-lhe o meu cesto “okay, sempre podemos recomeçar?”. Disse-me que já não fazia caso, para eu continuar como eu tinha começado. Assim como assim, continuei. Entrei ali com a intenção de comprar TUDO. Alface, tomate, coisas para fazer sopa, e todas as frutas do mundo mas fiquei com preguiça com aquela reacção dele. Compreendo que queira que as coisas sejam feitas à maneira dele. Mas quando entrei, ele deveria ter deixado de falar com o amigo e cuidado de mim, não? Pensei logo, como sempre neste tipo de situações: “nunca vais ser rico, meu querido”. Avancei para os kiwi e exclamou: “cuidado, não desarrume a fruta”. Forcei o sorriso e escolhi com cuidadinho os meus frutos peludos. Ia pegar uma caixa de morangos e exclamou de novo: “cuidado, não deixe cair nada ao chão”. Mas que raio. Devo realmente ter cara de terrorista da fruta e que lhe ia mandar tudo para o chão, assim, do nada... Olhei para ele e disse que já tinha tudo. Eu, que queria comprar a loja inteira, tinha apenas quatro coisitas no cesto. Paguei, desejei no auge da hipocrisia um “bonne soirée” e prometi nunca mais lá pôr os pés. Vou voltar aos maus hábitos, comprando a fruta e os legumes no supermercado, onde ninguém me chateia a paciência (e até posso pesar as minhas coisas sozinha). O pequeno comércio (aquele, pelo menos) e as minhas boas intenções que se lixem.