Conheça uma história...a dos meus pais: reportagem da Zero Hora
Filosofia

Conheça uma história...a dos meus pais: reportagem da Zero Hora


Beleza interior: O milagre das rapaduras

Conheça Hilberto Helvino Von Frühauf, o vendedor que sustentou seis filhos comercializando rapaduras

FABRÍCIO CARPINEJAR | [email protected]

A série Beleza Interior segue sua busca de todos os sábados de 2011 por personagens marcantes e peculiaridades de municípios gaúchos.

Neste, Zero Hora apresenta a história do alegre e incansável vendedor de rapaduras de Victor Graeff, no Alto Jacuí. Desde 1975, os doces caseiros de sua cestinha verde ajudaram o comerciante de Ensino Fundamental incompleto a pagar a faculdade de seis filhos.

A vida é dura como um pé de moleque, mas no fundo é doce.

Esta frase só tem sentido na boca de Hilberto Helvino Von Frühauf, 76 anos, morador de Victor Graeff, município de 3 mil habitantes, situado a 263 quilômetros da Capital.

Ele pagou a universidade de seis filhos vendendo rapadura de porta em porta. Desde 1975, acorda cedo, sai com uma cestinha verde cheia de confeitos feitos pela mulher Nelvi, caminha 200 metros de barro, embarca no ônibus da empresa Azul na Linha Jacuí e segue oferecendo o produto para quem encontrar pela frente em Carazinho, Passo Fundo e Não-Me-Toque, além de sua própria cidade.

O casal, que completa bodas de ouro em novembro, teve sete filhos; três já morreram: o químico Milton em acidente de carro em 1986; a professora Marilei ao cometer suicídio, inconsolável pelo fim precoce do irmão, em 1991; e Maristela, decorrente de complicações da paralisia cerebral, em 1993.

? Enterrar um filho é doer como bicho ? desabafa.

Nelvi lembra que dobraram a produção caseira de rapadura para cobrir remédios tarjas preta de Maristela, que passou 19 anos na cama.

? Ela nunca deixou de ser meu bebê de colo, um bebê grande.

Com escolaridade até a 5ª série, Hilberto nem guarda ideia de como sustentou o ensino da prole.

? Eu lutei, não trabalhei. Trabalhar é fácil.

Sua aparência simples e pobre confirma o milagre. Toda manhã veste uma japona furada, o abrigo cinza com rasgo nos joelhos e as havaianas pretas.
? Juntei pobrezas para conseguir o estudo de minhas crianças.

Crianças? Mania de pai que não enxerga o filho adulto:

Márcia, 38 anos, é formada em Química e reside na praia de Cassino. Moacir, 43 anos, é graduado em Veterinária e Administração e mora em Salvador (BA). Marcos, 45 anos, é pós-graduado em Biologia e escolheu viver em Santa Cruz do Sul. Marize, 48 anos, cursou Filosofia e mora em Mogi das Cruzes (SP).

A saída de rapaduras depende exclusivamente do fôlego de maratonista de Hilberto, que não admite regressar para casa de mãos abanando.
? Questão de honra. Melhor voltar tarde, de madrugada, do que ver a cara triste de Nelvi, após horas cozinhando e embalando o material.

Hilberto comercializa 28 rapaduras de 660 gramas por dia, a R$ 9 cada. Foram 360 mil rapaduras vendidas ao longo de sua história. Isso que sofreu calotes em suas andanças, de clientes que pediram para anotar e desapareceram logo em seguida.

? Não tem problema, vou aceitando que é cortesia de Deus. Homem honesto não cobra o outro, cobra de si mesmo.

A memória fisionômica de Hilberto não perdoa nenhuma recusa. Lembrar quem comprou é o básico, ele tem refinamentos.

? Não esqueço mesmo de quem me disse não.

Um de seus métodos é contar piadas picantes diante da indecisão do cliente.

? Ou ele ri e compra ou ele odeia a gozação e também compra de vergonha para calar a minha matraca.

Sua carência charmosa ainda resulta em comissão de 10%. Afinal, ele é um garçom em permanente trânsito de sua cozinha às ruas.

? O troco é dele, para homenagear as covinhas do seu riso e seus olhos de Sinatra ? brinca a bancária Juliana Ferreira, 29 anos, uma de suas freguesas em Victor Graeff.

Hilberto não sonha em ganhar na Mega Sena e se aposentar, muito menos delira com qualquer riqueza súbita.

? Se pudesse mudar algo hoje em sua vida, o que faria? ? pergunto.

? Ficar mais novo para lutar mais ? ele responde, sem pensar muito.

Sorte grande de seus nove netos.
ZERO HORA

 Foto:Tadeu Vilani


Fonte: Zero Hora



loading...

- Kiriku E A Feiticeira - Resenha
RESENHA: Kiriku e a Feiticeira (Kirikou et la Sorcière), 1998 (França); direção: Michel Ocelot  por Thaís Franco Tranquelin O meu trabalho é um estudo sobre discriminação e preconceito, tendo como base o filme de Kiriku. Este filme conta...

- Pequenas Cabeças Pensantes
Por PATRÍCIA ROCHAEm parceria com os filhos Eduardo e Susana, Lya Luft lança obra infantil para incentivar crianças a buscar respostasUm dia, uma garota chamada Lya entrou no escritório do pai e tascou: ? Quem era Sócrates? ? Era um filósofo. Então...

- Educação De Antigamente E De Hoje
Os pais de antigamente queriam ver os filhos trabalhando ainda crianças. O estudo ficava em segundo plano. Os pais de hoje preferem ver os filhos só estudando, porque trabalhar é assunto para só depois da faculdade ? se tiver...

- Memorial Descritivo
Sou Marise von Frühauf Hublard filha de pai agricultor (Hilberto Helvino von Frühauf) e de mãe professora (Nelvi Güntzel von Frühauf), filha mais velha de uma família de sete irmãos, três homens e quatro mulheres, hoje somos apenas quadro,...

- Hopes And Expectations, Black Holes And Revelations*
Antwerpen, Agosto 2009* Querida Sofia,Há algumas semanas atrás, a minha mãe ligou-me. Disse-me depois de alguns minutos de "conversa" (ou monólogo, consoante o ponto de vista) que eu estava com a voz em baixo e de poucas palavras. Respondi-lhe, sem...



Filosofia








.